Minha Fama de Mau apresenta Jovem Guarda para geração Netflix

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Erasmo Carlos ficou conhecido como tremendão, e é lembrado pelas gerações atuais como um anexo do Roberto Carlos da época da Jovem Guarda, então ter a chance de apresentar quem foi Erasmo Carlos para uma nova geração, e de quebra contextualizar todo o movimento do Yeah Yeah Yeah é um dos grandes méritos de Minha Fama de Mau, filme brasileiro de 2018 baseado no livro de mesmo nome que é a biografia de Erasmo Carlos, de Direção de Lui Farias.

Lui Farias conta a história do pobre Erasmo Esteves, apaixonado pelo rock americano dos anos 60, junto com sua turma que incluía um tal de Tião Maia (futuramente Tim), e que por aqueles caprichos da vida tem sua vida cruzada com a de um jovem cantor em ascensão, Roberto Carlos, com quem tem imediata conexão e cria uma amizade para a vida inteira. A história é contada pelo cineasta de forma simples mais bem bolada, com alguns recursos oriundos dos quadrinhos, para pontuar a passagem do tempo e os paralelos do mundo, contextualizando assim os jovens que viriam a criar versões do rockabilly americano e fundar as bases do que seria o BRock.

O filme se chama Minha Fama de Mau, mas poderia se chamar Minha Cara de Pau, pois Erasmo nunca foi um grande músico nem um cantor espetacular, mas sim alguém determinado e que não tinha medo de ouvir um não ou de se expor, e assim é muito bem retratado por Chay Suede, simpático e sedutor no papel. Já Roberto Carlos é bem caracterizado por Gabriel Leone, que consegue fisicamente lembrar o Rei. Malu Rodrigues como a ternurinha Wanderleia e Bruno de Lucca espetacular como Carlos Imperial completam o belíssimo quarteto de protagonistas do longa. Misto de biografia e tributo (cabendo até um espaço para homenagear o pai do diretor, que foi o diretor de um filme de Roberto), o filme pega leve em momentos que devem ter sido mais pesados, e foca mais em desenhar o cenário musical brasileiro por meio da história de Erasmo do que em esgotar o indivíduo, sendo muito interessante o retrato que se faz da jovem guarda e da indústria fonográfica.

Mais que um agrado à geração que hoje está repleta de pais e avôs que viveram esse tempo, Minha Fama de Mau consegue, com alguma maestria, apresentar a Jovem Guarda a uma geração Netflix e Spotify, e resgatar um pouco da rica história da música tupiniquim, com seus movimentos de se apoderar e transformar algo de fora, criando algo novo. Assim, um filme que consegue ser diversão para a família inteira, emocionando e ensinando, ainda que use o velho, malhado e infalível truque de contextualizar as canções no momento da vida dos protagonistas, criando momentos deliciosos como a apresentação de Amigo, que resume e entrega o melhor do filme, de Erasmo e de Roberto: amigo, você é o mais certo nas horas incertas. Que todos possam ter uma história assim.