Era uma vez em Hollywood mostra Tarantino sem propósito

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Tarantino não é apenas um grande diretor, nem se caracteriza por ser autoral. Ele é também multifacetado, e isso faz com seus filmes sejam, antes de mais nada, uma incógnita. Se fosse um poeta, seria como Fernando Pessoa com seus heterônimos, que nada mais eram do que as diferentes personalidades líricas, e esse conceito se aplica a Tarantino, que pode assumir uma tendência à homenagem, como fez em Kill Bill e Os Oito Odiados, ou algo mais catártico, como visto em Bastardos Inglórios, e agora novamente em Era Uma Vez Em Hollywood.

Era Uma Vez em Hollywood é difícil de classificar. Aguardado com expectativa alta, pois além do diretor trazia a dobradinha Pitt e DiCaprio pela primeira vez, além de um elenco de apoio estelar, como Pacino, Damien Lewis, Margot Robbie, Dakota Fanning, Kurt Russel, Timothy Olyphant, entre outros; e tem por mote explorar aquele verão na década de 60 em que Charles Manson e sua “família” espalharam o terror em Los Angeles com a série de assassinatos cometidos, inclusive a da atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polansky, todos esses devidamente retratados no filme. 

Criada toda essa expectativa, não é surpresa nenhuma que o longa de quase três horas acabe com uma pitada de decepção. Tantos oscaráveis juntos e o resultado parece uma colcha de retalhos, na qual o expectador consegue encontrar momentos luminosos, costurados em um filme mediano. Di Caprio está excelente, mas Pitt parece estar em um papel pequeno demais, de forma que a parceria deixou aquele gostinho de quero mais, e isso vale para muitos dos outros atores envolvidos.

Esse sentimento pode ser mais forte para quem não viveu esse verão ou cresceu com essa história sendo contada, contudo dada a universalidade do cinema de Tarantino, a superficialidade apresentada ao público passa a impressão de desleixo com o longo tempo de projeção, oferecendo o conforto de algumas subtramas interessantes, mas algo que mais parece fazer parte de um arco narrativo muito maior, como se fosse um episódio chave de uma série histórica, contudo nem esse conceito tem muita solidez visto o tom catártico do filme, que ao invés de contar o que aconteceu e assim interpretar os fatos, sugere um desfecho diferente aos acontecimentos históricos.

Nem bom nem ruim, Era Um Vez Em Hollywood peca por ser uma mediana feita por elementos acostumados a brilhar. Não chega a ser uma perda de tempo, mas certamente carrega uma grande frustração de expectativa, sendo muita pompa e pouco conteúdo.