Jojo Rabbit é um filme usando ingredientes antigos sendo algo novo e sensacional

PUBLICIDADE

Jojo Rabbit é prova de que um filme usando ingredientes antigos pode ser algo inteiramente novo e sensacional. As referências são muitas. Talvez a mais óbvia delas seja justamente A Vida é Bela, ganhadora do Oscar ao mostrar a guerra sob a ótica de um menino em um campo de concentração. Em Jojo, a guerra também é vista pela ótica de uma criança, mas dessa vez, uma criança da juventude nazista, o Jojo do título, na plenitude de seus 10 anos. 

Mais que uma cópia da Vida é Bela, Jojo serve como uma resposta, um outro lado, e consegue se aprofundar, divertir e informar muito mais. Cinema completo, em uma mostra que Taika Waititi, que ganhou notoriedade por acertar o tom em Thor 3, tem muito mais para mostrar.

Esteticamente diferenciado para um filme de guerra, a paleta de cores atua como um personagem. Do verde primaveiril das descobertas, ao cinza da cidade destruída, as cores contem uma história. O jovem Jojo, (bela atuação de Roman Griffin), tem um amigo imaginário para ajudar em sua solidão. Um abobalhado Adolf Hitler, magistralmente interpretado pelo diretor Taika, que resgata e homenageia o eterno Charles Chaplin em sua atuação satírica. Aliás, a sátira é o tom de um filme que começa com Beatles e termina com Bowie – ambos em alemão cantado.

Se Taika rouba a cena como um Hitler imaginado por uma criança, o resto do elenco está impecável e digno de nota. Scarlet interpreta um outro tipo de heroína dessa vez, quem coloca a vida em risco nas sombras para o bem maior. E faz isso com doçura maternal e maestria, ao esconder uma judia no sótão, em alusão à triste e conhecida história de Anne Franke, reimaginada tal como ocorreu em Once Upon in Hollywood, em um contexto funcional e emocionante. 

Do lado nazista, a atuação de Sam Rockwell merecia o mesmo destino de Scarlet e uma nomeação ao Oscar de atuação coadjuvante ao interpretar um patético e incompetente capitão do regime em secreta paixão correspondida pelo seu subordinado, o queridinho Alfie Allen, que compunha a tríade nazista com Rebel Wilson, fazendo seu humor nonsense de sempre.

Isso quer dizer que Jojo Rabbit é um filme de humor? Não. É um filme sério e triste, contado com muito humor, seguindo as linhas do poeta Rilke, citado no filme, que vive a beleza e o terror, já que nenhum sentimento é final.

Final é a certeza que Jojo é um daqueles grandes momentos do cinema, filme de ser visto e revisto, e que merecia muito mais honrarias e prêmios do que aqueles conquistados.