Parasita é tudo que se espera de um ganhador de Oscar

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Uma obra que é a primeira a ganhar o Oscar de Melhor Filme sem ser em língua inglesa gera um frenesi e uma curiosidade até nos mais céticos. E Parasita não poderia ser diferente, especialmente após ter despertado o interesse em circuitos artísticos de cinema para conquistar Hollywood ao levar a estatueta de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Internacional.

Completamente autoral e fruto do trabalho e visão do diretor Bong Joon-ho, Parasita dificilmente pode ser classificado de uma só forma ou reduzido à sua sinopse, no qual uma família desempregada acaba conseguindo, ao acaso e sob falsos pretextos, trabalhar para uma família rica, o que à princípio justificaria o nome do filme.

Poucos filmes têm o processo de metamorfose que Parasita tem, e talvez aí resida seu enorme diferencial e estilo único, que passeia por diversos gêneros cinematográficos ao longo de suas duas horas de exibição, conduzindo o público por diversas emoções conflitantes.

Ornado por uma fotografia que na maioria do tempo lembra o rústico e o real, para passar ao onírico e depois ao sombrio, o filme começa com uma pegada de documentário, mostrando as mazelas sociais e as dificuldades de uma família pobre, sempre lançando mão de simbolismos que vão marcando a passagem dos filmes – sendo nesse caso um bêbado fazendo suas necessidades praticamente na janela da moradia da família.

A situação começa a mudar quando um amigo melhor de vida oferece ao filho do casal uma posição de tutor de uma menina rica, mesmo sem ter condições para dar aulas. Começa o parasitismo, título do filme, e o filme em si.

Todos os elementos técnicos do filme mudam à medida que a narrativa evolui e começam a envolver o público da mesma forma que a família burguesa é envolvida. E começam a ser construídas cenas, que, concatenadas em série, mais parecem peças de dominó enfileiradas que começam a formar um desenho, rompido por uma visceral surpresa que impacta todo o desenrolar do filme.

Até então um filme bom mas previsível, o enredo o transforma em outra coisa completamente diferente. E importante lembrar que as peças ainda estavam posicionadas, mas uma força maior balançou demais o tabuleiro. Um filme vencedor de Oscar é um filme que toca, mexe, conversa, incomoda. E Parasita é tudo isso. E muito mais.