Aves de Rapina derrapa no feminismo, mas tem bom resultado final

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Alguns filmes nascem sob a sombra ou competição de outros, e já são julgados antes mesmo da estreia e esse fenômeno tem acontecido com grande frequência com os filmes do Universo DC, em parte pela larga vantagem aberta pela Marvel em suas produções cinematográficas e em parte pela decepção provocada por algumas obras. Mas Aves de Rapina precisa ser avaliado de forma independente. 

No filme, derivado de Esquadrão Suicida, decepção da qual se salva a Arlequina e pouco mais, a personagem interpretada por Margot Robbie assume o protagonismo, após um rompimento com seu “pudinzinho” Coringa. Isso faz da história uma história muito mais sobre a própria redescoberta e ressignificação do que uma história de heróis….ops….heroínas……quer dizer….anti-heroínas. Agora sim. Um coração partido é a mais universal de todas as histórias, e a aposta por essa linha narrativa encontra eco em algo que a DC fazia nos quadrinhos com muita qualidade: mostrar o universo heroico sob a perspectiva humana. E por esse lado, ficou um resultado interessante, afinal quem não quer ver uma volta por cima depois de uma decepção amorosa com tiros, explosões e uma bela dose de violência contextualizada? 

Se esse é o lado bom do filme, infelizmente a ótica do feminismo superficial ataca forte o filme, e acaba enviesando a história, como tem acontecido com muitas produções de Hollywood nos últimos tempos. Todos os homens, TODOS representantes do sexo masculino são vilões, ou no mínimo atrapalham, sem exceção e fazem por merecer a retribuição e a violência recebida.

Nada contra o vilão Máscara Negra, em deliciosa e delirante atuação de Ewan McGregor, ser um misógino sádico de forma que o público torça pelas desajustadas personagens femininas, mas o tom de feminismo é tão escrachado que até Batman é ridicularizado e serve para batizar uma hiena. Parece uma saída fácil tomada pela diretora iniciante Cathy Yan, que parece se inspirar no divertido James Gun na hora de determinar essa estética colorida e vibrante, com um escracho que mais lembra Tim Miller e seu Deadpool, o que com pitadas próprias que ainda devem tomar mais corpo nas próximas obras, faz de Cathy e sua obra uma bela surpresa.

Assim, Aves de Rapina – desnecessário o subtítulo que parece coisa de Willy Wonka – acaba por ser uma obra de muita cor, bela trilha sonora, cenas de lutas muito divertidas e a dose certa de violência e humor, ainda que pudesse se escorar menos no feminismo fácil e mais na força de suas personagens, como a bela origem da Caçadora, pois era um belo material para se explorar e muito ficou por ser dito, como a parca utilização da Canário. Erros perdoáveis e certamente melhor do que o filme de origem, Aves encontra o próprio caminho e revela uma diretora com potencial, especialmente se ousar mais, talvez como a própria trajetória da amada Harley Quinn.