Você Nem Imagina é bela discussão sobre o florescer da sexualidade

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O desenvolvimento da sexualidade sempre foi um tabu e motivo de discussões ao longo dos séculos, sem que nenhuma conclusão se chegasse a esse respeito. E ainda que muitas séries e filmes tenham abordado a questão com maior ou menor coragem, poucos conseguiram, e com sutileza e sem grandes problematizações, feito esse que Você Nem Imagina, nova comédia romântica da Netflix, alcançou. 

Em Você Nem Imagina, uma jovem imigrante chinesa que mora com seu pai em uma cidadezinha do interior americano, se vale de sua habilidade com a escrita e com as palavras (a primeira de uma série de críticas sutis do longa) para conseguir um dinheiro extra, escrevendo as redações, tarefas e provas dos colegas. Até que um de seus colegas, um simplório de bom coração, pede sua ajuda para escrever uma carta de amor para uma colega em comum pela qual ele está apaixonado. Ainda que fosse moralmente contra, Ellie Chu resolve ajudar Paul a conquistar Aster por conta de uma necessidade financeira.   

Debaixo de um microscópio ninguém é normal, e para ter mais sucesso, o time da conquista começa a pesquisar (stalkear?) o objeto de adoração, e um ritual de conquista à moda antiga se inicia. O interessante que os jovens se comunicam através das cartas, evitando as modalidades virtuais de comunicação, o que dá ao filme um sabor clássico, mesmo com um elenco tão jovem. Comentário à parte que, ainda que seja jovem, o elenco se sai muito bem e mostra o quanto o time de casting da Netflix tem acertado a mão, apresentando à Hollywood dezenas de bons talentos que depois migram para outros filmes fora da plataforma. 

Leve e descontraído, mesmo com as agruras de sempre de um colégio americano clássico, o filme resolve tomar um tom mais intimista e mergulha dentro dos personagens principais, mostrando que há muito mais que enxergam os olhos à primeira vista, desde a bela Aster, à introspectiva Ellie ao desajeitado Paul. E como não podia deixar de ser, começam a existir interesses laterais não planejados, a argamassa dos filmes de comédia romântica. Só que dessa vez, esses interesses são despertados pela afinidade de almas ao invés da mera paixão e do desejo efervescente da adolescência, e nesse contexto que é discutido o desabrochar da sexualidade, seja para que lado for.  

Infelizmente, o trailer e as notícias de divulgação rotulam e estragam o filme. O longa é certeiro em sua sensibilidade, mostra que não há nada de errado em se apaixonar por pessoas, independente dos julgamentos existentes, e que também é normal processar e entender esse sentimento no seu tempo e maneira individuais. Essa passagem explicitada em uma linda e metafórica cena no meio da rua ao final do filme, que é curto mas tão belo e bem colocado que parece evocar aquele DNA que moldou filmes como o Clube dos Cinco. Bravo.