Supernatural honra seus personagens em final simples e perfeito – resenha com Spoilers

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15 anos se passaram desde que a trajetória dos irmãos Winchester invadiu as telas e inovou no universo televisivo ao trazer uma dupla que caçava todo tipo de monstro e criatura sobrenatural, influenciando diversas outras obras de realismo fantástico, tendo, temporada após temporada, escalonado seus desafios. Uma das maiores conquistas da série, além de manter uma base de fãs fiéis e atentos, foi superar dois momentos tidos como finais antecipados, como na sua quinta temporada, quando os irmãos se enfrentaram recriando a batalha de Lucifer e Miguel. Ninguém acreditava que a série voltaria depois disso. Mas voltou. Para outros, a queda dos anjos e a libertação da escuridão na terra foram outros momentos que poderiam ter encerrado a trajetória dos caçadores, mas não o fizeram.

Verdade que houve momentos chatos, como o purgatório, no qual o arco faz o espectador se sentir realmente entre o céu e o inferno. E outros que parecem mais saídos da cartola, com mais mortes e ressurreições do que os clássicos heróis dos gibis. E até isso os irmãos Winchester já foram, em uma das suas muitas aventuras não tradicionais e meta linguísticas.

Aliás, meta linguagem não faltou. Bob Singer era o nome do produtor da série, mas também da figura paterna dos dois, que chegaram a interpretar seus atores, no tipo de confusão que a vida imita a arte e vice-versa, que Jared Padalecki, o Sam, se casou, na vida real, com a atriz que fez o demônio Rubi, por quem Sam se apaixonou. E Jansens Anckles, o Dean, casou-se com uma atriz que fazia um anjo caído, sendo que a série, na sua despedida, deu espaço para as duas esposas, além de trazer o papa Winchester no centésimo episódio. Nada mais justo.

Trilha sonora espetacular, que tentava fugir do clássico do Kansas, Carry on My Wayward Son, mas sempre voltava, assim como o Impala (Baby, segundo dean), o que marca o apego emocional da série, fechada em si, em seus mitos, atores e fãs. O final era anunciado, mas os fãs se mobilizam, e voilá, mais uma temporada anunciada

Mas tudo tem seu fim. Ao final, a batalha foi contra Chuck, Deus, uma figura eterna, assim como a escuridão, em um dos muitos conceitos emprestados de Neil Gailman, e sempre haverá um Deus e sempre haverá uma Morte, e outro não podia ser o fim dos irmãos. Mas não havia mais a luta de suas vidas, suas vidas eram uma luta, então o final resolve conversar com o início (mas isso não é Dark), com Dean encontrando, de forma banal e sem mais ser um joguete de uma deidade entediada, seu final de caçador, e Sam, tendo a vida que sempre deveria ter tido quando foi içado da faculdade para ajudar o irmão a encontrar o pai.

E esse fim (será? – como diria Chuck em sua fase escriba), era não só o final perfeito, como o final necessário e digno do Ragnarok pelo qual passaram os Winchester, para encontrar, do outro lado, todos aqueles que amavam e completavam sua razão de existir e lutar. Algo que o caçador interno de cada um busca. E a Opera Rock de Kansas, que toca após a mais bela execução de Brothers in Arms, deixa claro que o final da série estava escrito não nas estrelas, mas na canção de 1975: siga em frente filho rebelde, haverá paz quando tiver acabado. Repouse sua cabeça cansada. Não chore mais. Impossível após dizer adeus aos Winchester.