Cobra Kai vai surpreender como um ataque do infame Dojo

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A crise de ideias novas em Hollywood, somada com um certo esgotamento dos filmes de heróis após um ciclo virtuoso, acabou por fortalecer a recuperação de boas histórias do passado, e ao que tudo indica, está conseguindo se livrar da pecha de eternos caça-níqueis que produções assim tinham até pouco tempo. Ainda assim, houve um certo sentimento de nariz torcido quando veio a público a notícia que sairia uma série que resgataria Daniel San e Jhonny Lawrence em suas vidas adultas, despertando certa curiosidade quando foi dito que o foco seria justamente no Cobra Kai caído em desgraça.

Três temporadas depois, a desconfiança foi derrotada com um golpe certeiro e a série passou a queridinha do povo, ansioso pela quarta, que deverá ser a derradeira temporada. Isso porque Cobra Kai resgata Jhonny Lawrence como um perdedor, nunca tendo reconstruído sua vida após a derrota para Daniel-San, que por sua vez virou um bem-sucedido, e levianamente arrogante, empresário de concessionárias automobilísticas. De forma inteligente, a série deixa o expectador curtir a desgraça da vida de Jhonny até cansar, para daí focar na narrativa.

A contextualização do conceito e da falsa dicotomia de vilão e herói rapidamente assume a tônica de todos os arcos narrativos, deixando claro que Karate Kid era a história sob a ótica de Daniel San, enquanto que a primeira temporada de Cobra Kai revisita a narrativa sob a ótica de Jhonny. Como muitas primeiras temporadas, não é genial, tampouco é ruim, e talvez até por isso a Netflix tenha soltado a segunda temporada junto.

E é justamente na segunda temporada que as coisas engrenam. Mais nostálgica que a primeira, a série explora mais o legado de Miyagi e a conexão de Daniel com sua herança karateca, no sentido de buscar o triunfo contra os redivivos Cobra Kai, cuja grande estrela é o jovem Miguel, um aluno que encontrou no karatê a auto defesa e um propósito. Mas como não podia deixar de ser, cada um somente consegue dar aquilo que possui, e no caso Jhonny não tem como evitar os maus exemplos que o ensinaram, apesar de ter aprendido muitas lições com seu fracasso. E é justamente nesse momento que a série começa a trazer de voltas personagens originais de grande impacto, tudo culminando em um final de temporada extremamente bem feito e inusitado, que faz o expectador segurar a respiração até a chegada da terceira temporada.

O terceiro ato traz muitas reviravoltas, algumas previsíveis e outras tantas inesperadas, se valendo do maior trunfo da série até o momento, o retorno de mais personagens relevantes da trilogia dos anos 80, emulando essa no sentido de trazer o Japão de volta à vida de Daniel, combinando sua vida adulta com a sua trajetória de narrador. E se o menino é o pai do homem, Daniel, e porque não Jhonny, tem seu momento de confrontar suas crianças interiores, e até mesmo entender seus legados através da visão e das consequências com seus filhos, e que lições queriam que aprendessem. E isso tudo caminha de forma orgânica para um final menos dramático que no ano anterior, mas de maior expectativa.

Assim, e pelo tanto que foi construído, tudo indica que a quarta temporada vai dar tons finais à eterna, e muito bem desenvolvida, rivalidade, às vezes beligerante, às vezes engraçada, mas sempre divertida, entre Daniel San e Jhonny Lawrence. Nenhum dos dois se tornou seu mestre, mas ambos trazem um pouco dos aprendizados somados à própria bagagem para trazer ensinamentos à nova geração, uma geração conectada com as dores do tempo atual, sem perder de vista os medos eternos da juventude. Verdadeiro ippon da Netflix.