Feitiço do tempo se renova com pandemia e se mostra mais atual do que nunca

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Toca o despertador. É o dia 2 de fevereiro. O dia de ver se a marmota vai olhar para a própria sombra e se o inverno vai continuar. Um dia normal, razoavelmente sem graça, e que para todos os envolvidos espera-se que acabe logo para que se possa voltar para a vida normal, mas uma nevasca impede todos de partir e força o pernoite na pitoresca cidade. E no dia seguinte, ainda é o dia 2 de fevereiro, o famigerado dia da Marmota.

Esse é o enredo de feitiço do tempo, sucesso da década de 90 com Bill Murray, filme que parece muito mais atual quando se experimenta o sentimento de aprisionamento e repetição que somente o isolamento social e a transformação na forma de se relacionar com as pessoas. E quando a pandemia entra em sua segunda temporada, que se parece exatamente igual à primeira, perceber que o canal FOX resolveu passar o filme no segundo dia de fevereiro, em loop, simplesmente no repeat, de forma que ao terminar, começava de novo, exatamente como o dia que Bill estava tendo, e muito expectadores também.

O longa, de 1993, que também trazia outros atores bem conhecidos como Andie MacDowell, Chris Elliot e Harold Ramis, com quem Bill havia atingido o sucesso em Caça-Fantasmas e que curiosamente também é responsável pela direção, tinha um enredo muito simples, que basicamente se resumia em um repórter egocêntrico, que junto com sua equipe de filmagem, ficava preso no mesmo dia 02 de fevereiro, acordando ao som de “I Got You Baby” e podendo viver e reviver o mesmo dia, com isso passando por diversos tipos de experiências e sentimentos, que lembram até as tradicionais fases do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

E essa não é a única reflexão que o filme provoca, especialmente quando visto mais de uma vez. Sim, essa é uma das grandes graças do filme. Ver o filme mais de uma vez. Seja para entender a chave do mistério do dia repetido, o que é necessário para quebrar ele ou, para muitos um grande favorito, quantos dias Bill Murray viveu no dia da marmota. A impressão que se tem sobre essa última pergunta parece mudar a cada vez que se vê novamente o filme. Interessante prestar atenção nas diferentes reações do personagem ao mesmo estímulo, e como suas reações às mesmas questões apresentadas vão alterando o rumo dos acontecimentos, permitindo assim novas cadeias de reações e novos resultados diferentes. Quase uma experiência sociológica, com inteligentes sacadas do humor seco de Murray.

Um longa que influenciou diversos filmes e que foi homenageado por um grande número de séries, Feitiço do Tempo ganha novos tons à cada visita, como um bom livro, e vai se abrindo como um vinho de qualidade, ao mesmo tempo entretendo, provocando reflexões e deixando uma mensagem poderosa ao seu revigorante final.