O Povo Contra OJ Simpson é prova de que Ryan Murphy domina as TVs americanas

PUBLICIDADE

Alguns crimes e julgamentos romperam a barreira dos tribunais e se instaram no cotidiano e no imaginário popular. É apostando nesse tipo de caso que Ryan Murphy, já famoso por seu sucesso com GLEE e American Horror History, resolveu criar a série American Crime History, na qual cada temporada trata de um crime específico, sem ligação com as demais, diferente de American Horror History, que acabou por costurar as séries, sendo interessante ver como o estilo de vida norte americano fascina o diretor e produtor, sendo obra maior de todas suas criações.

Primeira temporada

A primeira temporada de American Crime History resolveu abordar de cara um dos casos mais interessantes dos últimos 20 anos: o suposto assassinato cometido por OJ Simpson contra sua ex-mulher e o amante dela. Para aqueles que não sabem, OJ foi um grande jogador de futebol americano durante a década de 90, chegando inclusive à tv e ao cinema, e em 1994 foi acusado de assassinar de maneira brutal sua ex-esposa o amante desta. Após um longo julgamento, o mesmo foi inocentando, momento em que a discussão já havia em muito ultrapassado as barreiras jurídicas e se transformado em uma questão racial e social. Vale lembrar que isso não é spoiler, visto que é notícia de mais de 20 anos atrás. 

Série de sucesso

Um dos grandes motivos do sucesso da série é um elenco estrelado, totalmente afinado e jogando junto. Talvez seja a melhor atuação do quase irreconhecível veterano John Travolta, cuja maquiagem reforça não só a similaridade física com a persona representada, mas funciona até mesmo em conjunto com a personalidade em questão. Sarah Paulson, velha queridinha de Ryan, dá um show de interpretação, e Cuba Gooding Jr reencontra o velho sucesso que tinha nas telonas, e faz um OJ carismático, vulnerável, bipolar e que, pasmem, mantém o tempo todo a afirmação de sua duvidosa inocência. Interessante também a menção a David Schwimmer, o eterno Ross, que aqui funciona como Robert Kardashian (sim, daquela família) e que serve na narrativa como bússola moral, ainda que amigo de OJ, e serve para atrair o público que era criança na época do ocorrido. 

Assim, o grande mérito de Ryan Murphy e da equipe criativa é manter o suspense sobre uma história em que todos já sabem o final. Verdade que a riqueza de detalhes, aliados à imprevisibilidade dos acontecimentos favorece – em muito – o sucesso da narrativa, que chegou a ser matéria da revista Veja, tantos são os ocorridos inusitados.

Alias, a narrativa é a palavra chave do caso. Não da série, do caso mesmo. Ganhou o processo quem se apropriou da narrativa e executou uma história mais coesa e mais fácil de ser digerida, sendo que isso funciona, e muito, na vida real, nos tribunais ou fora deles. Uma série que serve de entretenimento e aula de Direito e Sociologia, além de um belo suspense, ainda que se saiba o final da história. Mas afinal, quantas histórias não são assim?